Em A Vida em Tons de Cinza, temos
a narrativa em primeira pessoa, contada pela personagem Lina Vilkas, de apenas
15 anos. Ela tinha uma vida tranquila, com os pais e o irmão de 10 anos, na
Lituânia. Ela tinha um dom incrível para a arte de desenhar, e iria estudar em breve em uma famosa escola na capital. Até que na noite do dia 14 de junho
de 1941, a polícia secreta soviética invade casas, e os leva a força para as estações de trem. Trens, com
vagões sujos, que eram usados para animais como vacas e porcos, e os jogam lá
dentro. Os homens foram separados das mulheres, e nesses vagões o único buraco
“janela” que existe para entrar ar, é também o que serve como latrina. Lá Lina
conhece Andrius, e se tornam muito amigos. Na primeira noite os trens não saíram da estação, então Lina, seu irmão Jonas, e Andrius conseguem escapar
momentaneamente e ir até os vagões dos homens a procura de seus pais, e com
isso descobrem que em russo estava escrito no vagão onde eles estavam – Ladrões
e Prostitutas. Infelizmente apenas encontram o pai de Lina e Jonas, que disse
que não iria para o mesmo destino que eles, e que talvez Lina e outros, estivessem sendo
levados para a Sibéria. Como um último ato de despedida no momento, o pai deles
entrega pelo buraco, um pedaço de presunto e pedi que dividam e o comam sem
nojo.
“Pressionei a ponta do dedo na
sujeira do chão para escrever seu nome. Munch. Eu seria capaz de reconhecer o
traço dele em qualquer lugar. E papai poderia reconhecer o meu. Foi isso que
ele quis dizer. Se eu deixasse um rastro
de desenhos, ele conseguiria me encontrar.”
Não sei se as palavras desumano,
e crueldade tem força suficiente para exprimir a forma como eles foram
tratados. De comida eles recebiam apenas um água suja e uma papa. Vários morreram
nos vagões e eram atirados no campo onde passavam. Logo são levados a uma
fazenda grande, onde morariam em pequenas cabanas, e todos trabalhariam como
escravos, por muito pouca comida. Jonas foi designado para trabalhar com umas
senhoras, Lina, sua mãe Elena e outros foram mandados para as plantações de
beterraba; outros para as de batatas. Quem fosse pego roubando algum alimento
corria o risco de ser morto na hora, mas a fome era intensa de mais, o que fez
alguns roubarem das plantações, esconder nas suas roupas para poder comer depois.
Alguns personagens como a Senhora Rimas, fizeram a diferença na história. Mesmo
com tanto sofrimento ela não perdeu o senso de humor.
“-Elena, por favor, pode me
passar o talco? – pediu a Sra. Rimas enquanto se limpava com uma folha.
Começamos a rir. Era uma cena
ridícula: Nós três ali agachadas, segurando nosso joelhos. Gargalhamos de
verdade...
- O senso de humor – disse mamãe,
com os olhos marejados de lágrimas de tanto rir – Isso eles não podem no tirar,
não é?”
É impossível descrever a história
do livro, sem deixar a resenha grande, ou não contar muito, o que faria perder
a essência principal de uma história extremamente marcante, de certa forma
linda, inesquecível emocionante.
Lina e Andrius mesmo sendo
jovens, sentem amor um pelo outro. Mas logo alguns ia ser levados para outro
lugar e separados novamente. Foi o que aconteceu com Lina e sua família. Foram
levados, e Andrius ficou. A saudade era tão grande quanto de seu pai, mas por
mais sofrimento que houvesse, a esperança era muito forte. Levados então para
Trofimovsk, no Pólo Norte, onde passariam por mais sofrimento que poderiam
esperar. Stalin foi praticamente o mandante de tudo, um homem desprezível.
“Nós estávamos no fundo do
oceano, mas ainda assim tentávamos alcançar o céu.”
Ruta Sepetys, utilizou fatos
reais, e toda a trajetória fiel, para escrever a história mais emocionante que
já li. Além de muito bem escrita, a autora consegue nos impressionar sempre. As
vezes somos até pegos de surpresa, depois de um parágrafo mais “leve”, uma
última frase nos faz calar, e fechar o leve sorriso. A mãe de Lina e Jonas,
Elena é sem dúvida a personagem mais marcante. Ela é quem acalma a todos,
protege os filhos, e consegue se manter segura, sem nunca perder as esperanças.
Lina sempre foi mais séria, e não infantil, mas com o decorrer da história ela
se torna muito madura e forte.
Sentimentos simples para muitos
de nós como a fome ficarão abalados, com a leitura. Um livro que além de fazer
você pensar e refletir pode mudar alguma coisa em nós.
Fotos reais:
Por que ler A Vida em Tons de
Cinza?
Porque, mesmo com o fato de ser baseada em fatos
reais, mesmo com todo o sofrimento, a história em si vale a pena. É uma leitura maravilhosa e a autora
conseguiu me fazer chora muito no final. Mas com isso ela ainda surpreende o
leitor com um epílogo lindo. Que nos deixa arrepiados e felizes. Não poderia
existir final mais perfeito. Apenas leiam,só isso.
Um homem encontra enterrada uma
caixa de papéis e então começa a ler:
“ [...] Caro amigo,
Os escritos e desenhos que você
está segurando foram enterrados no ano de 1954, quando voltei com meu irmão da
Sibéria, onde passamo 12 anos presos. Há milhares de nós, quase todos mortos.
Andrius meu marido, diz que o mal
irá governar o mundo até o dia em que os homens e mulheres bons decidirem agir.
Acredito nele.
Talvez esses papéis lhe causem
choque ou horror, mas não é essa a minha intensão. Minha maior esperança é que
essas páginas despertem sua mais profunda compaixão. Espero que levem você a
fazer alguma coisa, a contar a alguém.
Somente então poderemos ter
certeza de que esse tipo de mal jamais voltará a se repetir.
Atenciosamente,
Lina Arvydas
9 de julho de 1954 - Kaunas "
Meus melhores cumprimentos,
Maurício Dias.
Esse livro deve ser mesmo muito especial, conseguiu me tocar só pelos trechos, espero muito poder ler em breve.Sua resenha está ótima mesmo, destaca bem sua impressão sobre a história, coisa que muita gente não faz, sempre se limitam à sinopse. Talvez seja bom, no entanto dar uma revisada, tem umas palavras repetidas, como em "e consegue manter se manter segura!". Mas realmente gostei muito de como você fala do livro, adoro resenhas em que o autor mostra que se envolveu de verdade com o livro. Livro bom é esse que somos um antes de ler e outro depois.
ResponderExcluirAbraços, estou seguindo.
http://beletrismos.blogspot.com.br/
Chorei demais lendo esse livro, e choro em toda resenha que leio dele, é perfeito demais. Por mais que eu me indigne com a situação que a autora nos apresenta eu acho que ela foi brilhante e humana em ter feito esse romance baseada em fatos que aconteceram. Tudo aquilo deve ser contado.
ResponderExcluirMaurício, bela resenha, parabéns.
Beijos
Viviane
RR
Esse livro é tão triste, mas tão bonito!
ResponderExcluirSó de lembrar ja fiquei arrepiada! Foi um dos meus favoritos tb!
Parabens pela resenha! Ficou ótima!
Bjokas
Flavia - Livros e Chocolate
Nossa é bem diferente do que eu estava pensando. Uma amiga minha comprou e começou a ler e disse que não gostou, que o livro não era bom. Mas pelo que eu estou vendo não era nada daquilo que ela me falou. Vou ler.
ResponderExcluirhttp://blogprefacio.blogspot.com.br/
Esse é o tipo de livro q vc desidrata de tanto chorar, mas é lindo, tão, mas tão lindo... Um dos melhores q li esse ano.
ResponderExcluirChorei tanto, mas tanto. Até hj não entendi como não fui parar no hospital desidratada.
ResponderExcluirÉ meu livro preferido também, amo muito esse livro, ele me fez mudar o modo como eu via muitas coisas, inclusive eu mesma, eu nunca tenho palavras que consigam expressar a grandeza da mensagem desse livro.
ResponderExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
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